quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sexo anal pra destruir o Kapital!!!!

12 Macacos alados não conseguem trepar sossegados

A primeira aparição pública do Coletivo 12 Macacos. O momento de estréia. Tinha de ser num espaço de festa & alegria, transgressão & embriaguês, música & corpos dançantes: Parada Gay de Fortaleza. Seiscentas mil pessoas, na Beira-Mar, seguindo onze trio-elétricos.
Naquela tarde quente, de sol a pino, céu azul, corpos suados, espíritos-livres, soltamos este panfleto lúdico, tomando emprestado uns versos do Roberto Piva, poeta maldito da anarquia contemporânea: o coito anal derruba o kapital, do poema Manifesto utópico-ecológico em defesa da poesia & do delírio (PIVA, 2006). Viemos emprestar nossa energia anárquica ao movimento pela diversidade sexual: “Sexo anal pra destruir o Capital”.
Não temos medo do panfleto; pelo contrário, não há nada mais profundo e superficial do que um toque… E este panfleto, nós o elaboramos como se fora um anti-panfleto, com anti-palavras-de-ordem. Alugamos umas roupas de freiras e de padres, do acervo do Theatro José de Alencar (!!!), e seguimos de ônibus até à Avenida Beira-Mar.
Levamos uma faixa: Gays Contra a Pátria!
Essa frase na faixa gerou muitas confusões, dado o caráter ambíguo da mensagem. O que queríamos dizer com isso? Que éramos gays e contra a pátria? Que os gays são contra a pátria? Que julgamos que os gays são contra a pátria?
Nos posicionamos em frente ao palanque dos shows, e abrimos nossa faixa. Que logo foi percebida pela apresentadora do evento, que naquele instante mesmo proferia um discurso contra a violência crescente dos grupos homofóbicos contra homossexuais. Ela se volta contra a nossa faixa, e nos acusa de homofobia. Insufla uma vaia da população. E somos atingidos por latas de cerveja. Rapidamente eu tento me dirigir ao palanque para desfazer o mal-entendido, mas logo sou cercado por dois reportes perguntando se éramos homofóbicos… eu digo que não… eu digo que somos anarquistas… Ele pergunta se tudo isso tem a ver com um tal de Coletivo 12 Macacos. Como ela já sabia disso? Ele tem um panfleto nosso nas mãos, claro. Eu peço que não usem o nome do grupo na reportagem. E explico que somos a favor do movimento gay… E alcanço o palanque. Por sorte, Léo, do 12 Macacos, conhece o coordenador da Parada… somos conduzidos ao camarim para conversar com a apresentadora e explicar que somos Pró-Gays, anarquistas… e ela: “ah, desculpe, não entendi a mensagem da faixa…”. De repente, eu olho ao meu redor: estou num camarim lotado de travestis e transexuais… tudo aquilo ali parece um sonho surreal, um filme do Fellini… e eu olho para uma vedete sentada numa cadeira, de plumas azuis, muita maquiagem, e percebo que não é um travesti… é a professora Adelaide Gonçalves, historiadora anarquista… homenageada como madrinha da Parada… tudo é meio surreal… tudo vai se conectando… tudo foi muito rápido. Não fazia vinte minutos que havíamos chegado na Parada, e eu já estava no palco do evento, aguardando a chamada para fazer um discurso improvisado, na tentativa de eliminar os equívocos, apaziguar os ânimos e salvaguardar o coletivo de qualquer outra agressão. Eu nem percebi, então, uma mulher à minha frente, de costas para mim, também esperando para ser chamada. Por traz de mim havia uma multidão que gritava em minha direção. Eu me viro, e entendo: eles querem que eu chame essa mulher. Ela vai ao centro do palco e começa a cantar: é a Gretchen. A multidão delira ao som de “bumbum…’. Eu tenho bom senso: fazer um discurso político depois de um show da Gretchen numa Parada Gay? Desci discretamente do palco, agradeci à coordenação e voltei para perto dos outros macacos. Tiramos as fantasias, enrolamos a faixa, e saímos panfleteando e cantando: “sexo anal, pra destruir o capital…” Ainda deu tempo de ouvirmos a apresentadora corrigir tudo: “eles são gays anarquistas que não gostam da pátria, eles têm esse direito de não gostar da pátria… mas eles estão do nosso lado, galera.” Rimos muito. Sim, não somos gays, mas odiamos a pátria. Tudo foi uma imensa diversão.
O território dos 12 Macacos não cabe numa pátria.
Como os macacos de Bukowski, na divertida crônica “Doze macacos alados não conseguem trepar sossegados” (BUKOWSKI, 1984), nunca nos deixam em paz.
            Eis o panfleto, datado nas folhas do Diário de Itinerância na minha Tese:



Fortaleza, 24 de junho de 2007

LIBERDADES INTRANSIGENTES… AMORES PROIBIDOS… SEXUALIDADES DIFUSAS!!!

Nascemos livres, livres para sentirmos o que quisermos: amor, ódio, irritabilidade, desejos… livres para fazermos o que quisermos: sexo, amizade, dançar, sexo, comer, correr, sexo, cantar, sexo… SOMOS LIVRES!

Entretanto, não podemos esquecer que existem instituições que se formam para nos reprimir e negar nossas liberdades. Instituições higienizadoras que nos chegam com sua ortopedia comportamental... ‘corrigindo’ as ‘falhas’ humanas... e conduzindo o rebanho para a ‘normalidade’.

Os Movimentos Gays, e afins, têm lutado por grandes conquistas frente aos dispositivos conservadores dominantes. Mas o que aparentemente pode significar avanço, às vezes espelha uma atitude conservadora por parte de muitos gays e lésbicas organizados ou não: a necessidade de se sentir incluíd@ nessa estrutura social. De volta para o rebanho…

Na Sociedade de Controle, na qual vivemos, reina uma cultura de captura dos sujeitos. Capturas implicam, muitas vezes, em que os sujeitos ou grupos de afinidades sejam anexados na esfera social não por aceitação, mas por controle e regulação das atividades e atitudes desses grupos ou sujeitos. Assim, muitos gays e lésbicas são anexados à lógica do capital ao se tornarem um nicho de consumo de segmentos empresariais que se estruturam para extrair o máximo de lucro possível do comportamento homo. Os gays e as lésbicas não são mercadorias. São humanos e merecem todo nosso respeito… e porque não um pouco de devoção, afinal os gays são responsáveis por boa parte da alegria de circula no mundo, e que faz esse mundo circular… [rsrsrs]. GAYS CONTRA O CONSUMO!!!!

Muitas capturas se dão na esfera religiosa... e daí vemos gays, lésbicas, transgêneros clamando que o catolicismo/protestantismo os aceitem em suas castas… Gays desejando serem ‘abençoados’ pela igreja do papa nazista… Santos devoradores de desejos… santos higienizadores de condutas… Gays e lésbicas não precisam de santidade alguma para serem felizes...GAYS CONTRA A IGREJA!!!!

As capturas higienizadoras ‘aceitam’ os gays, desde que eles tenham uma atitude hetero… A sociedade de Controle pouco se importa com a violência crescente contra os gays, ela até a estimula… os aparelhos do estado são organizados de modo a reprimir o comportamento ‘desviante’ homo. Gays e lésbicas, não participem da assepsia promovida pela sociedade conservadora. GAYS CONTRA A SOCIEDADE DE CONTROLE!!!! GAYS CONTRA A PÁTRIA!!!! POR UMA HOMOSSEXUALIDADE MAIS TRANSGRESSORA!!!!

Por isso, nós, 12 Macacos, eternos inconformados e imoralistas, bradamos em bando:
SEXO ANAL, SEXO ANAL, pra DESTRUIR O CAPITAL!!!!!!!!!

2 comentários:

  1. oi sandro
    adorei a idéia de criar um espaço de continuidade e propagação de tudo isso
    muito bom relebrar esse dia aí na parada gay
    eu tava lá gritando sexo anal pra destruir o capital
    passarei por aqui pra ver mais

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  2. meu deus, eu tinha lido esse texto em 2011 e fiquei muito passado com tudo que vocês falaram. nesse meio tempo eu procurei de novo o post, mas sem sucesso. hoje eu lembrei disso é vim procurar... né que achei???


    como é bom ler isso nos dias de hoje

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