terça-feira, 27 de setembro de 2011

BREVE LÉXICO LIBERTÁRIO-GUATTARIANO


Continuo publicando trechos de minha tese de doutorado "CORPOS MOVEDIÇOS, VIVÊNCIAS LIBERTÁRIAS: a criação de confetos sociopoéticos acerca da autogestão", hoje me dedicando ao GLOSSÁRIO dos termos usados ao longo do trabalho; e inspirado no léxico escrito por Guattari ao final do seu livro Micropolítica: cartografias do desejo, organizado por Suely Rolnik.


BREVE LÉXICO LIBERTÁRIO-GUATTARIANO

Ação Direta – contrafluxo anárquico de negação da representação e da espetacularização da vida; agir sem a interferência de mediadores; a vida pulsa longe da representatividade. Autoorganização e intervenção sobre; afundar baleeiros japoneses e noruegueses, por exemplo.

Ação luddita – Ação direta destrutiva; tática de guerrilha nos ambientes de produção da mercadoria (a fábrica, a casa, a escola, nossas cabeças, etc…), cujo propósito é fazer desaparecer os focos fascistas e a lógica do capital. Destruição construtiva. Os ludditas, trabalhadores industriais destruidores das máquinas no início do século XIX… um movimento corporal contra a economia industrial capitalista (BOURDEAU; JARRIGE; VINCENT, 2006)

Aforismo – um nano-ensaio que opera a nível molecular gerando mutações progressivas a um ponto molar insuportável.

Batalha de Seattle – efetivação de uma ética libertária contra o poder, multidão de singularidades como força produtora de outras subjetivações anárquicas, deslocamentos no espaço-tempo da anarquia; reapropriação do devir-guerrilha urbana anti-capital.

Black Block – Bloco negro anarquista, movendo-se como tática de enfrentamento a partir de princípios de guerrilha urbana; agrupamento dinâmico, de ação direta, de contestação agressiva, e anti-pacifista, pela via da destruição da propriedade privada e da resistência ao capitalismo das megacorporações. [vide Batalha de Seattle]

Reclaim The Streets [RTS] – Corpos em movimento, ocupando ruas, avenidas, improvisando barricadas com equipamentos urbanos; [des]organização coletiva de ação direta anti-capital; tática de desobediência civil forjada na dança, na ocupação das ruas por bicicletas brancas, na festa pública orgiástica e hedonista. Em Seattle, ocuparam quarteirões inteiros, com uma megafesta-bicicletada, de forma a impedir o acesso dos delegados das nações à reunião da OMC. [vide Batalha de Seattle]

Coletivo Libertário – grupelho de devires e subjetivações múltiplas, atravessados por fluxos desejantes e produzindo linhas de fuga incessantes; materializado em subjetividades plurais em constante ebulição e desaparecimento, desterritorializando-se vertiginosamente. Máquina de guerra nômade, corpos em movimento.

Freegans - coletadores nômades contemporâneos – respigadores urbanos, construindo novas subjetivações anti-mercadoria. O freegan transita sem consumir.

Anti-Édipo, o – uma demarcação de território, um desejo de construir um-outro-absolutamente-diferente (!) que fuja (como de fato foge!) do pensar dogmático, da representação platônica, dos fascismos.

Patches – remendos de pano com material impresso contendo mensagens subversivas… todo punk sabe remendar sua própria roupa… e costurar seus próprios patches. Linha e agulha fazem parte do arsenal de guerra punk.

Édipo – modelização falocrática, o patriarcal eterno fascista.

Vegan – paleta de cores e tons variados, mas com um único propósito: extensão de uma ética da vida a todos os animais não-humanos; prática vegetariana como ação política; epifania de sabores.

Vegetarianismo Político – ambientalismo da boca para dentro; vide Vegan.

Macaquínico – agenciamentos maquínicos deleuzeanos experimentados pelo Coletivo 12 Macacos; delírio no campo social levado a cabo pelos 12 macacos.

Okupa – squatt, ocupação; território em constante desterritorializações; reordenamento dos equipamentos urbanos de maneira a atender aos interesses libertários por uma vida anti-consumo e anti-estado; a criação efetiva de outras e novas experimentações grupais e familiares.

Zine – espaço autônomo de produção e circulação de desejos; revistinhas subversivas, disseminadoras de insurgências libertárias; o punk criou o zine, o zine [re]criou o punk.

ELF – Earth Libertation Front, tática de ação direta sem centro decisório, organizada a libertar a Terra da ação do capital transnacional e toda sorte de presença tecnológica destruidora da vida. Ação clandestina radical e ultra-violenta de eco-terrorismo. Qualquer pessoa, qualquer grupo, em qualquer lugar do planeta, em qualquer momento, pode e deve organizar uma ação ELF. Autoorganiza-se e autodissolve-se, para ressurgir em lugar distintos, com pessoas distintas, com propósitos distintos. Incêndios em mansões na Califórnia em áreas de preservação, ataques incendiários a concessionárias de automóveis off-road, são táticas ELF contemporâneas.

Do It Yourself – o velho faça-você-mesmo punk; atitude por excelência dos grupos libertários; faça você mesmo seu zine, faça você mesmo sua horta, sua comida, sua educação, faça você mesmo seus deslocamentos urbanos, faça você mesmo a luta contra o capital, contra o Estado, contra o trabalho;

TAZ – desagravo profundo a todas as formas fixas; rebelião que não confronta o Estado diretamente, mas opera um agenciamento de “…guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de imaginação) e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e outro momento, antes que o Estado possa esmagá-lo” (BEY, 2001, p. 17). nenhum respeito por nada… uma ofensa imperdoável aos cânones anarquistas, aos militantes da santa igreja dogmática do anarquismo.

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