Continuo publicando trechos de minha tese de doutorado "CORPOS MOVEDIÇOS, VIVÊNCIAS
LIBERTÁRIAS: a
criação de confetos sociopoéticos
acerca da autogestão", hoje me dedicando ao GLOSSÁRIO dos termos usados ao longo do trabalho; e inspirado no léxico escrito por Guattari ao final do seu livro Micropolítica: cartografias do desejo, organizado por Suely Rolnik.
BREVE
LÉXICO LIBERTÁRIO-GUATTARIANO
Ação Direta –
contrafluxo anárquico de negação da representação e da espetacularização da
vida; agir sem a interferência de mediadores; a vida pulsa longe da
representatividade. Autoorganização e intervenção sobre; afundar baleeiros japoneses e
noruegueses, por exemplo.
Ação
luddita – Ação
direta destrutiva; tática de guerrilha nos ambientes de produção da mercadoria
(a fábrica, a casa, a escola, nossas cabeças, etc…), cujo propósito é fazer
desaparecer os focos fascistas e a lógica do capital. Destruição construtiva.
Os ludditas, trabalhadores industriais destruidores das máquinas no início do
século XIX… um movimento corporal contra a economia industrial capitalista (BOURDEAU;
JARRIGE; VINCENT, 2006)
Aforismo – um nano-ensaio que opera a
nível molecular gerando mutações progressivas a um ponto molar insuportável.
Batalha de Seattle – efetivação de uma ética libertária contra o poder, multidão de
singularidades como força produtora de outras subjetivações anárquicas, deslocamentos
no espaço-tempo da anarquia; reapropriação do devir-guerrilha urbana
anti-capital.
Black
Block – Bloco
negro anarquista, movendo-se como tática de enfrentamento a partir de
princípios de guerrilha urbana; agrupamento dinâmico, de ação direta, de contestação agressiva, e anti-pacifista, pela via
da destruição da propriedade privada e da resistência ao capitalismo das
megacorporações. [vide Batalha de
Seattle]
Reclaim
The Streets [RTS] –
Corpos em movimento, ocupando ruas, avenidas, improvisando barricadas com
equipamentos urbanos; [des]organização coletiva de ação direta anti-capital; tática de desobediência civil forjada na dança, na ocupação das ruas por
bicicletas brancas, na festa pública orgiástica e hedonista. Em Seattle,
ocuparam quarteirões inteiros, com uma megafesta-bicicletada, de forma a
impedir o acesso dos delegados das nações à reunião da OMC. [vide Batalha de Seattle]
Coletivo
Libertário –
grupelho de devires e subjetivações múltiplas, atravessados por fluxos
desejantes e produzindo linhas de fuga incessantes; materializado em
subjetividades plurais em constante ebulição e desaparecimento,
desterritorializando-se vertiginosamente. Máquina de guerra nômade, corpos em
movimento.
Freegans - coletadores nômades
contemporâneos – respigadores urbanos, construindo novas subjetivações
anti-mercadoria. O freegan transita sem consumir.
Anti-Édipo, o – uma demarcação de
território, um desejo de construir um-outro-absolutamente-diferente (!) que
fuja (como de fato foge!) do pensar dogmático, da representação platônica, dos
fascismos.
Patches – remendos de pano com material
impresso contendo mensagens subversivas… todo punk sabe remendar sua própria
roupa… e costurar seus próprios patches. Linha e agulha fazem parte do arsenal
de guerra punk.
Édipo – modelização falocrática, o
patriarcal eterno fascista.
Vegan – paleta de cores e tons
variados, mas com um único propósito: extensão de uma ética da vida a todos os
animais não-humanos; prática vegetariana como ação política; epifania de
sabores.
Vegetarianismo
Político – ambientalismo
da boca para dentro; vide Vegan.
Macaquínico – agenciamentos maquínicos
deleuzeanos experimentados pelo Coletivo 12 Macacos; delírio no campo social
levado a cabo pelos 12 macacos.
Okupa – squatt, ocupação; território
em constante desterritorializações; reordenamento dos equipamentos urbanos de
maneira a atender aos interesses libertários por uma vida anti-consumo e
anti-estado; a criação efetiva de outras e novas experimentações grupais e
familiares.
Zine – espaço autônomo de produção e
circulação de desejos; revistinhas subversivas, disseminadoras de insurgências
libertárias; o punk criou o zine, o zine [re]criou o punk.
ELF – Earth Libertation Front,
tática de ação direta sem centro decisório, organizada a libertar a Terra da
ação do capital transnacional e toda sorte de presença tecnológica destruidora
da vida. Ação clandestina radical e ultra-violenta de eco-terrorismo. Qualquer
pessoa, qualquer grupo, em qualquer lugar do planeta, em qualquer momento, pode
e deve organizar uma ação ELF. Autoorganiza-se e autodissolve-se, para ressurgir
em lugar distintos, com pessoas distintas, com propósitos distintos. Incêndios
em mansões na Califórnia em áreas de preservação, ataques incendiários a
concessionárias de automóveis off-road,
são táticas ELF contemporâneas.
Do It Yourself –
o velho faça-você-mesmo punk; atitude por excelência dos grupos libertários;
faça você mesmo seu zine, faça você mesmo sua horta, sua comida, sua educação,
faça você mesmo seus deslocamentos urbanos, faça você mesmo a luta contra o
capital, contra o Estado, contra o trabalho;
TAZ – desagravo profundo a todas as
formas fixas; rebelião que não confronta o Estado diretamente, mas opera um
agenciamento de “…guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de
imaginação) e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e outro momento, antes
que o Estado possa esmagá-lo” (BEY, 2001, p. 17). nenhum respeito por nada… uma
ofensa imperdoável aos cânones anarquistas, aos militantes da santa igreja dogmática
do anarquismo.
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